quarta-feira, 16 de abril de 2008

Do Tempo




Jayme Caetano Braun - Do Tempo


O tempo vai repontando
O meu destino pagão

Vou tenteando o chimarrão

Da madrugada clareando

Enquanto escuto estralando

O velho brasedo vivo

Nesse ritual primitivo

Sempre esperando, esperando...


É a sina do tapejara

Nós somos herdeiros dela

Bombear a barra amarela

Do dia quando se aclara

Sentir que a mente dispara

Nos rumos que o tempo traça

Eu me tapo de fumaça

E olho o tempo veterano

Entra ano e passa ano

Ele fica a gente passa


Que viu o tempo passar

Há muita gente que pensa

Mas é grande a diferença

Ele não sai do lugar

A gente que vive a andar

Como quem cumpre um ritual

É o destino do mortal

É o caminho dos mortais

Andar e andar nada mais

Contra o tempo, sempre igual.


Tempo é alguém que permanece

Misterioso impenetrável

Num outro plano imutável

Que o destino desconhece

Por isso a gente envelhece

Sem ver como envelheceu

Quando sente aconteceu

E depois de acontecido

Fala de um tempo perdido

Que a rigor nunca foi seu.


Pensamento complicado

Do índio que chimarreia

Bombeando na volta e meia

Do presente no passado

Depois sigo ensimesmado

Mateando sempre na espera

O fim da estrada é a tapera

O não se sabe do eterno

Mas a esperança do inverno

É a volta da primavera.


Os sonhos são estações

Em nossa mente de humanos

Que muitas vezes profanos

Buscamos compensações

Na realidade as razões

Onde encontramos saída

Nessa carreira perdida

Que contra o tempo corremos

Já que, a rigor, não sabemos

O que haverá além da vida.


Dentro das filosofias

Dos confúcios galponeiros

Domadores, carreteiros

Que escutei nas noites frias

Acho que a fieira dos dias

Não vale a pena contar

E chego mesmo a pensar

Olhando o brasedo perto

Que a vida é um crédito aberto

Que é preciso utilizar.


Guardar dias pro futuro

É sempre a grande tolice

O juro é sempre a velhice

E de que adiante este juro

Se ao índio mais queixo duro

O tempo amansa no assédio

Gastar é o melhor remédio
No repecho e na descida
Porque na conta da vida

Não adianta saldo médio!


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